quarta-feira, 17 de março de 2010

Poema a Beatriz Costa

Com a minha admiração de artista dilecta, Alma,
Teu vou abrir álbum, mas não como poeta.
Pois não há quem sorria, ou gema, ou cante ou chore
Que não te sinta n'alma, en'alma não te adoro.
Quando uma mulher é graça, é luz, magia, amor
Seja um sábio, um poeta, um rude, um ignorante,
Desde que um vê surgir num halo de poesia,
É Camões, é Petraca, é Tasso, é Hugo, e Dante.
Abro o teu álbum, sim, mas para que se veja
Que um cantor, um violeiro, um Dante do Sertão,
Vai ficar vigilando a porta desta «Igreja»,
Leal, firme e sinto como se fosse um cão.
Porque ao vil Lovelace, ao Sátiro profano,
Que não sabe e nem pode cultivar o Belo,
Em atitude hostil, como um cachorro humano,
Uivando, eu Gritarei: - Aqui não pode entrar!
Mas ao poeta artista, ao, ao Dom João inocente,
Ao que adora uma mulher de espiritualidade,
A mulher, como tu, um querubim que é sempre,
Eu, Beatriz, oscilando a cauda, reverente,
Com os Meus Olhos de Cão, Cérbero de humildade,
Lhe direi: - Pode entrar, e até pisando em mim!
Entra e escreve, é poeta, iluminado um verso,
Uma estrofe, um hino Um Poema ascensional,
Que ela é mais que uma estrela! É o céu todo estrelado,
É o céu do meu Brasil e O Céu de Portugal!
De joelhos, a seus pés, vai rezando rezando,
Que, se entraste a chorar, sairás daqui cantando.
Se amaste uma Beatriz, como Alighieri, o Genio,
E amando essa Beatriz foste um infeliz Dante,
Na Divina Comédia, a Beatriz, no proscênio,
É um ideal Beatriz de quem não tem Beatriz.


CATULO DA PAIXÃO CEARENSE, o maior criador de imagens da poesia brasileira. Nasceu em S. Luís do Maranhão um 8.10.1863 e morreu no Rio de Janeiro a 10.05.1946

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